26 de abril de 2017

Um universo e uma criatura formidáveis

Outbreak no Brasil, encadernada pela Editora Abril
Um dos primeiros confrontos com o Predador
saiu no Brasil pela Mythos
O universo expandido da série Alien ganhou força em 88 quando a editora Dark Horse começou a publicar em quadrinhos Outbreak, a sequência de Aliens, dirigido por James Cameron em 1986. Na trama, escrita por Mark Verheiden e desenhada por Mark A. Nelson, Hicks e Newt partem junto com um destacamento de colonial marines rumo ao planeta natal dos xenomorfos. Essa HQ originou uma continuidade que acabou desconsiderada em 91, quando Alien³ finalmente saiu do limbo e ganhou as telas dos cinemas em 92 no filme de David Fincher. Nesse meio tempo o sucesso dos quadrinhos da Dark Horse ocasionou o tão esperado encontro do xenomorfo com o Predador, igualmente licenciado e publicado pela mesma editora. Aliens vs Predador é outra série de sucesso da Dark Horse que infelizmente acabou sofrendo com 2 filmes fracos comparados aos bons arcos das HQs já publicadas. Ao menos os fãs tiveram jogos de videogame excepcionais derivados do confronto nos quadrinhos. É nas páginas das HQs que o confronto do xenomorfo e o Predador ganham alguma profundidade. Aliás, é nas HQs da Dark Horse que vários conceitos sobre os xenomorfos foram definidos. A colmeia, a forma de comunicação das criaturas, o ciclo da rainha alien e até mesmo o conceito de rei surgiram nas páginas das HQs e acabaram incorporando o cânon da franquia.

Edição especial brasileira da Atitude, contém a HQ Reaper/Cargo
Considero a sequência original da Dark Horse pra Aliens um arco narrativo muito interessante: os aliens acabaram tomando a Terra após o fracasso da Weiland Yutani e concorrentes e controlar os xenomorfos em cativeiro. Esse primeiro arco chegou a ser publicado no Brasil no final da década de 80 pela Editora Abril. O ponto alto da série é quando a Ripley volta no 3º arco de histórias, Female War, escrito novamente por Verheiden e ilustrado por Sam Keith quando o conflito com os xenomorfos acaba chegando no seu momento decisivo. Infelizmente o arco acaba com uma história curta que definiria o fim do domínio alien na Terra com uma solução preguiçosa envolvendo a espécie do viajante que Ripley e a tripulação da Nostromo encontram em LV-426 no filme de 79 dirigido por Ridley Scott. Daí em diante, os arcos acabam se delongando em um conceito vago de que os aliens originaram uma espécie de droga experimental que aumenta o vigor físico e a percepção do usuário. A temática em si não é tanto o problema quanto o rumo que os quadrinhos tomam, as soluções começam a ficar fáceis e o xenomorfo gradativamente deixa de ser a criatura assustadora que deveria ser. Após o lançamento de Alien³, esses arcos todos acabaram sendo desconsiderados cedendo espaço pra novas tramas isoladas, algumas muito bem escritas e desenhadas, outras simplistas envolvendo colonial marines eliminando aliens como baratas em um jogo, algo simplesmente medíocre.

Até mesmo o Batman encarou os xenomorfos!
Do período posterior a Alien³ destaco algumas favoritas como Salvation, Reaper/Cargo, Purge e Pig, HQs desenhadas por grandes mestres como Mignola, Sam Keith e Simon Bisley e que trazem um ar de Heavy Metal / Metal Hurlant aos confrontos da humanidade com o xenomorfo. Uma pena que muitas dessas HQs jamais foram publicadas devidamente no Brasil, raras exceções como a edição da Atitude que trouxe Reaper/Cargo e outras histórias curtas bem como os primeiros confrontos com o Predador e outros crossovers inusitados publicados pela Mythos. Todas essas HQs podem ser encontradas em compêndios publicados pela Dark Horse nos últimos anos, inclusive em versão digital. Atualmente os quadrinhos da série Alien se dividem em duas séries. uma envolvendo um universo comum com o Predador e os personagens e eventos mostrados em Prometheus, e Defiance escrita por Brian Wood e ilustrada por Tristan Jones e outros desenhistas nas edições seguintes. Gostei bastante de Defiance, principalmente por envolver elementos vistos em Aliens e no jogo Alien: Isolation, incluindo até mesmo uma participação especial de Amanda Ripley no primeiro número. A série envolvendo Prometheus e o Predador faz um serviço razoavelmente bom entregando respostas que o filme de Ridley Scott não entregou e que os fãs esperam ver no vindouro Alien: Covenant.

Aliens: Dead Orbit, a nova série lançada no Alien Day de 2017
Pra comemorar o Alien Day, a Dark Horse lançou hoje a série Aliens: Dead Orbit escrita e ilustrada por James Stokoe. As prévias liberadas impressionam pela beleza dos detalhes no traço de Stokoe. Conferi a edição digital e garanto que a série começou muito bem, a apresentação dos personagens e ambientação na estação Sphacteria constroem uma narrativa bacana e o traço de Stokoe surpreende pelos detalhes, aguardo ansioso pela 2ª edição prevista pra 31 de maio. Não vou entregar spoilers mas o que mais gostei além da ambientação e o traço foi o fato de o xenomorfo mal dar as caras na primeira edição, o que deu tempo de apresentar devidamente o protagonista e a estação Sphacteria. Aliás, que nome pra uma estação! Apesar de não ter uma publicação regular no Brasil, as HQs da Dark Horse já estão na história dos quadrinhos por manter tanto tempo uma franquia aos cuidados de uma mesma editora. Basta comparar com o tempo de franquias como Star Wars e Star Trek que alternam ciclos editoriais em seus históricos. Os xenomorfos nunca deixaram a Dark Horse e parece bem provável que continuem assim. Que venham mais boas HQs, os fãs agradecem!


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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.