17 de abril de 2017

Omega Man

*Resenha feita durante a 2ª Mostra Sci-Fi no MIS realizada entre 17 e 20 de abril de 2017 no Museu da Imagem e do Som de Campo Grande, MS.

Charlton Heston, o Omega Man ou
A Última Esperança da Terra
O livro Eu sou a Lenda de Richard Matheson já ganhou outras adaptações pro cinema mas ouso dizer que nenhuma tão estilosa como a realizada em 1971 por Boris Sagal, protagonizada por Charlton Heston. Como todas as transcrições da obra pras telas, essa também não consegue capturar a essência do terror da obra-prima de Richard Matheson, o próprio autor não gostou do resultado de nenhuma das adaptações, ainda assim. acredito ser esse filme o que melhor capture a tensão da época em que o romance se baseia. A Última Esperança da Terra, também conhecido como Omega Man, foi um dos muitos filmes dos anos 70 que capturaram o medo de uma nova guerra mundial, uma guerra que poderia devastar o mundo como conhecemos. Dessa vez, o medo não vem das armas nucleares e sim da guerra biológica. É uma arma biológica que lança o mundo no caos que vemos nas telas e é essa a ameaça que o Dr. Robert Neville (Charlton Heston) dedica seus esforços a combater.

Mathias, o mutante líder do culto
As vítimas da doença não resistem à luz, principalmente luz do sol. Eles não conseguem coordenar seus pensamentos e aparentemente regridem a um estado primitivo tribal que rejeita totalmente a tecnologia e a racionalidade, abraçando a crença em um culto que venera tudo que seja avesso ao progresso da humanidade até o momento em que a guerra começou. Eles almejam um mundo puro, sem o pecado da tecnologia e Neville é o último representante do mundo que se destruiu pela guerra, Neville e suas armas, máquinas e armadilhas. Com isso o protagonista vive sozinho, crente de que ninguém mais restou e ele é o único homem com a racionalidade intacta o bastante pra tentar buscar uma forma de salvar o mundo, o Omega Man, literalmente. Destaco do filme a cena em que Neville em sua solidão vai ao cinema assistir a um filme sobre Woodstock e vê hippies falando de um mundo melhor, onde as pessoas se entendem e se amam. A ironia presente em toda a cena retrata muito do sonho que se perdeu ao longo da década de 70 quando os EUA perceberam a ferida aberta que o Vietnã representava e que essa era só uma de muitas outras. Os hippies nunca tiveram o mundo que sonharam e Woodstock nada mais foi que um devaneio juvenil. Esse gosto amargo da derrota marcou a maioria dos filmes de ficção científica lançados na década até que Star Wars aparecesse com todo seu escapismo em 77.

Fachada do cinema em que Neville assiste ao filme sobre Woodstock

Eu sou a Lenda havia sido adaptado antes em um filme que foi planejado pela produtora inglesa Hammer, a mesma dos filmes do Drácula com Cristopher Lee e Peter Cushing. Eles chegaram a encomendar o roteiro do próprio Matheson anos depois da publicação do romance em 54 mas a produção acabou colocada de lado até 64 quando uma parceria anglo-italiana retomou o projeto. Matheson não estava satisfeito com a abordagem dada ao seu roteiro, tanto que mudou seu nome nos créditos pra Logan Swanson. O filme foi rodado na Itália e teve Vincent Price como protagonista do longa que ganhou o título Mortos que Matam no Brasil, lá fora é conhecido como The Last Man on Earth. Mortos que Matam é interessante mas pessoalmente considero difícil entender a lenda do horror Vincent Price no papel principal, é algo que nunca consegui aceitar e já vi outros fãs reclamarem. Outra adaptação do livro é a protagonizada por Will Smith lançada em 2007, dessa vez com o mesmo título do livro. O filme de Francis Lawrence toma uma série de liberdades com a trama original da obra e acaba distorcendo muito do conceito tanto dos filmes anteriores quanto do livro de Matheson. Mortos que Matam e A Última Esperança da Terra podem ser encontrados no Brasil no box Sessão Dupla de Terror lançado pela Versátil Home Video. O livro Eu sou a Lenda de Richard Matheson é publicado no Brasil pela Editora Aleph e ainda está disponível nas livrarias, você pode ler a resenha do Sentinela aqui. Se você apreciar o filme, recomendo intensamente ler o livro que o inspirou, principalmente pelo terror descrito por Matheson, vale lembrar que gênios do horror como Stephen King consideram Eu sou a Lenda uma de suas maiores influências. Quanto aos filmes, indico principalmente o de 71 com o Charlton Heston, o mesmo que protagonizou outros tantos clássicos da ficção científica e que inaugura hoje a 2ª Mostra Sci-Fi no MIS.


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O Sentinela Positrônica é um Blog Parceiro da Editora Aleph.

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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.