A nova edição da Editora Aleph |
Não há muito o que dizer do livro sem entregar muito da trama. Logo que as naves chegam, uma voz se ouve por todas as cidades, em todas as línguas: a voz dos Senhores Supremos, os novos senhores da humanidade. Seu propósito é apenas nos assistir, sem interferir em nossas vidas, contanto que a humanidade obedeça uma única regra: não mais tentar explorar o espaço. Logo no primeiro contato, a humanidade anseia por conhecer os Senhores Supremos mas estes, através de seu líder, Karellen, prometem ao representante das Nações Unidas e da raça humana, Rikki Stormgren, se revelar dentro de 50 anos terrestres, Até lá fome, miséria, guerra e falta de recursos, todos os grandes problemas da humanidade são sistematicamente erradicados pelos Senhores Supremos e uma era de ouro se inicia para a humanidade.
O próprio Arthur C. Clarke no verso da nova edição, provavelmente em foto de 1953, ano de lançamento do livro. |
O Fim da Infância é um dos romances mais incomuns de Clarke. Incomum porque foge da racionalidade quase matemática de seus protagonistas, apelando inclusive pra fenômenos paranormais. Em dado momento da trama, habilidades especiais como telecinese, projeção astral e temas como parapsicologia são livremente abordados, tudo em função do desenvolvimento da narrativa. Algo incomum perto do contexto da obra de Clarke mas sempre muito bem colocado no texto de modo a não deixar dúvidas de que tudo está sendo visto e observado como uma possibilidade científica pelos envolvidos.
Seja pelo choque da revelação da natureza dos Senhores Supremos, sua aparência e seu propósito ou pelo final surpreendente ao mesmo tempo que comovente e um tanto quanto melancólico, O Fim da Infância é um exercício de imaginação fantástico, capaz de nos levar a abrir nossas mentes da mesma forma como quando David Bowman começa sua viagem definitiva dentro do monolito em 2001. O destino da humanidade e dos Senhores Supremos é algo marcante e que definitivamente não sai da cabeça do leitor tão cedo. A edição da Aleph contém extras como o prólogo alterado pelo autor pra situar a trama não no pós-guerra mas durante a Corrida Espacial nos tempos da Guerra Fria, algo que foi desconsiderado no relançamento que optou por manter a trama tal como ela foi publicada originalmente em 1953.
*Considerações sobre a trama e o impacto de O Fim da Infância na Ficção Científica / Com SPOILERS*
A aparência dos Senhores Supremos é o primeiro choque que o livro propicia ao leitor. Considerando a época em que o livro foi escrito (1953) e o fato de que o cristianismo era, e ainda é, algo de difícil discussão, o visual demoníaco de Karellen é algo que choca o leitor. O visual utilizado na adaptação recente do SyFy me lembra o demônio do filme A Lenda, algo assustador e impressionante mas confesso que esperava um visual mais alienígena, menos óbvio, algo mais próximo do visual que Neal Adams pensou na adaptação cancelada dos anos 70 pra TV. De uma forma ou de outra, essa revelação foi um dos momentos mais impactantes pra muitos leitores na década de 50 e que continua surpreendendo até hoje. Confira o visual de Karellen na minissérie do SyFy e no traço de Neal Adams no blog do desenhista. Aproveite pra conhecer também a história da fracassada produção pelo próprio Neal Adams nesse outro link em seu blog.
Filme A Aldeia dos Amaldiçoados |
A edição anterior, também da Editora Aleph. |
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O Sentinela Positrônica é um Blog Parceiro da Editora Aleph. |
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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.
Seu instagram é @danielrockenbach.