27 de fevereiro de 2015

Vida longa e próspera Sr. Nimoy


Hoje é um dia triste.

Seja você um fã de Jornada nas Estrelas ou não, mesmo que nunca tenha ouvido o nome Leonard Nimoy na vida, hoje é um dia triste. Uma pesquisa feita há alguns anos atrás apontava que boa parte da população mundial ao menos uma vez na vida ouviu falar de alguém chamado Spock, Kirk, ou McCoy ou mesmo de uma tal Enterprise.


Jornada nas Estrelas marcou não apenas a cultura Pop e a Ficção Científica ou mesmo a ciência e
tecnologia. Grandes inventores, personalidades, artistas e outras tantas figuras foram influenciadas pela série e um dos grandes responsáveis por isso é esse senhor que muitos reconhecem apenas pelo personagem que ele interpretou.

O gesto de origem judaica
Leonard Nimoy nasceu em Boston, filho de imigrantes judeus da Ucrânia. Um fato pouco conhecido é que a saudação do Sr. Spock hoje adotada pelos nerds é na verdade um gesto de origem judaica, uma invenção do próprio Nimoy durante as gravações da série clássica.

Você pode achar que Jornada nas Estrelas não tem nada a ver com você ou seus gostos mas pode ter certeza que em algum momento do seu dia, alguma influência de Jornada você experimentou, usou ou viu. Se você ligou do seu celular, usou um PC, viu alguma propaganda falando em diversidade ou mesmo usou uma roupa diferente, pode ter certeza que alguma coisa de Jornada nas Estrelas estava ali e com isso, alguma coisa desse grande ator que foi Leonard Nimoy.

Ele pode ter rejeitado o personagem na década de 70 em uma autobiografia (Eu não sou Spock), afinal de contas, que ator aceita de bom grado interpretar um personagem cuja imagem é mais lembrada que a dele próprio? Ele pode ter voltado atrás nos anos 90 abraçando de vez a fama do personagem maior que a vida que ele ajudou a criar em outra autobiografia (Eu sou Spock). De uma forma ou de outra, Nimoy será sempre o homem por trás do mito. Fica o personagem, vai se o homem mas fica a memória, o grande ator que deu vida ao mito.

Spock viverá pra sempre em nossas memórias, Nimoy também.

Vida longa e próspera a todos e que Nimoy viva pra sempre em nossos corações.



Um adendo: O último tweet de Nimoy.



Numa tradução livre:

"A vida é como um jardim. Momentos perfeitos podem ser colhidos mas não preservados, exceto na memória"


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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.

19 de fevereiro de 2015

O que é ficção científica?

Para entendermos a ficção científica enquanto gênero literário, temos que assumir uma série de pressupostos. A ficção científica trata de narrativas nas quais um conhecimento científico mínimo dá o embasamento para o desenvolvimento da trama. É essencial que o mundo natural faça sentido seguindo leis estabelecidas pela ciência, mesmo quando a referência seja apenas teoria ou modelo científico ou mesmo uma extrapolação destes.

Um erro comum é associar a ficção científica apenas às ciências aplicadas ou naturais, ignorando as ciências humanas. As distopias presumem realidades nas quais a sociedade como um todo tomou caminhos diferentes da nossa sociedade. 

Um exemplo de distopia que aborda o lado das ciências humanas na ficção científica é Fahrenheit 451 de Ray Bradbury. Nele, um futuro alternativo trata de uma sociedade que baniu a leitura escrita, considerando proibida a posse e circulação de livros, modificando com isso a função do bombeiro que em nossa realidade apaga incêndios e salva vidas e nessa realidade incendeia os livros confiscados pelo Estado. Bradbury não trata em seu texto de aspectos físicos, matemáticos ou biológicos e sim de filosofia, história e sociologia no desenvolvimento da narrativa.

Aldous Huxley
Existe uma interpretação da qual discordo que distingue a ficção científica em hard, associada às ciências aplicadas, e soft, associada às ciências humanas. Considerar essa divisão implica num lugar comum que alguns leitores assumem ao considerar a ficção hard mais profunda e importante que a soft, algo que generaliza e tira o mérito de obras importantes como Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley. Este livro, ao mesmo tempo em que é uma distopia que trata da instrumentalização e banalização da sociedade, aborda conceitos sofisticados de genética em seu texto, permitindo com isso uma interpretação mais ampla do conhecimento científico, seja ele das humanas ou das ciências aplicadas, elevando a sofisticação do texto.

Outro pressuposto é que a ficção científica necessariamente pertence ao futuro, espaço ou realidades alternativas. A ficção também pode abranger períodos históricos no passado interpretando momentos da História de acordo com a visão do autor. 

Memórias encontradas numa banheira de Stanislaw Lem mostra um futuro no qual arqueólogos estudam o século XX, o último século da existência do papel impresso que acabou sendo dizimado por uma bactéria e regrediu por séculos o progresso da humanidade. Com sondas temporais e a ajuda de um manuscrito impresso encontrado intacto em uma banheira, os arqueólogos aprendem mais sobre a sociedade ocidental do século XX cujo Deus era o capital (interpretado pelos arqueólogos do futuro como kaapetal) e sua adoração era feita em templos chamados bancos. Esse prólogo mostra por meio da interpretação dos arqueólogos do futuro como diferentes períodos históricos podem ser revisitados com outro olhar, gerando uma nova interpretação dos fatos. Após o prólogo passamos a acompanhar o autor das memórias em sua jornada kafkiana dentro de um importante templo na cultura ocidental, o Pentágono.

Arthur C. Clarke
Estes pressupostos são a essência da ficção científica moderna, que começou a surgir nas publicações de editores como Hugo Gernsback e John W. Campbell cujas revistas pulp publicaram os primeiros contos de grandes autores como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke. Antes disso a ficção científica teve seu início propriamente dito com Julio Verne que, ainda que especulasse bastante em cima do conhecimento científico de sua época, foi capaz de produzir textos com relativa precisão científica em sua narrativa, algo que H.G.Wells aprimorou anos depois. Existem outros autores anteriores a Verne cujos textos continham elementos básicos vistos na ficção científica, no entanto estes não desenvolveram suas obras como Verne fez, logo, nada mais justo que considerá-lo o patrono do gênero. 

Todavia o início do século XX trouxe a ficção científica a um nível mais elementar, próximo ao da fantasia. As aventuras de Flash Gordon, Buck Rogers e John Carter presumiam a fuga do herói a uma realidade diferente, fantástica, onde o protagonista é capaz de grandes feitos sem muita explicação ou embasamento científico, apenas pelo escapismo e entretenimento. Nada contra esse tipo de narrativa, o problema é que ela se aproxima mais da fantasia propriamente dita que da ciência, o que traz à tona a necessidade da distinção entre ficção científica e fantasia.

Na fantasia o texto propõe um escapismo ao leitor, geralmente para um mundo onde o sentido ou a ordem natural das coisas podem ser invertidos de acordo com a vontade do autor. Uma realidade onde a magia acontece sem necessidade de explicação ou justificativa além da força de vontade ou predestinação, o mesmo vale para seres mitológicos ou fantásticos como elfos e dragões ou mesmo mundos inteiros como a Terra-Média de Tolkien. Claro que isso não diminui o valor da fantasia, ela pode ser sofisticada a ponto de conter em seu texto críticas à nossa sociedade em clássicos da literatura como As Viagens de Gulliver de Jonathan Swift onde o autor usa a sociedade de Liliput como metáfora para discutir as incoerências da sociedade da época. São inúmeros os exemplos de fantasias sofisticadas ou mesmo descompromissadas mas cuja riqueza literária justifica toda a sua admiração.

Guerra nas Estrelas
(desculpe, cresci com o título traduzido,
não com Star Wars) 
Pessoalmente adoro a literatura fantástica ou mesmo a ficção científica menos comprometida dos quadrinhos ou de Guerra nas Estrelas (desculpe, cresci com o título traduzido, não com Star Wars) mas meu intuito neste espaço é discutir a ficção científica moderna de autores como Asimov, Clarke e Heinlein, de filmes como 2001 ou Lunar, séries como Jornada nas Estrelas ou até jogos como Mass Effect.

Vejo a ficção científica como um misto de entretenimento e inspiração, em que podemos exercitar nossas mentes em um escapismo produtivo que, mesmo que não acerte em suas previsões, nos ajude a pensar e entender o porquê das coisas. Mesmo que viagens temporais ou viagens em velocidades superiores à luz sejam impossíveis para corpos físicos, é válido discutir os motivos os quais a física moderna dita que proíbam tais façanhas. Aí fica claro o caráter didático de ficções como Jornada nas Estrelas. Por mais impossível que seja uma Enterprise circulando por aí, é interessante aprender mesmo com os erros desse tipo de obra. Pessoalmente me encantam as ficções que, cientes das limitações das teorias contemporâneas, tentam trabalhar narrativas cujo tema abraça as leis da natureza no desenvolvimento da narrativa.




Referências:


  • ASIMOV, Isaac. No mundo da ficção científica. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1984
  • ALLEN, L. David. No mundo da ficção científica. CUNHA, Fausto. A ficção científica no Brasil. São Paulo: Summus Editorial, 1974.

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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.

16 de fevereiro de 2015

Começando os protocolos de ativação...



A Sentinela Positrônica está ativa e pronta para começar a discutir o melhor da ficção científica em todas as mídias!


A ideia aqui é trazer ao leitor um entendimento mais profundo do que é a ficção científica em suas mais variadas manifestações. Eventualmente caminharemos por gêneros próximos como fantasia ou terror, mas sempre no intuito de contextualizar as diferenças entre a ficção científica e a fantasia ou apenas dar boas indicações, afinal de contas, todos nós também amamos fantasia e terror!


Meu objetivo não é adotar uma postura acadêmica no tratamento da ficção científica e sim trazer ao leitor um pouco mais de informação sobre o assunto, conceituar algumas definições, contar a história do gênero e oferecer dicas, análises e tudo mais que possa interessar aos fãs. Claro que todos os conceitos e definições sempre virão diretamente embasados em literatura específica sobre o assunto, mas o intuito aqui é fugir do formalismo acadêmico. Quando for o caso, cada texto trará uma referência bibliográfica caso o leitor queira se aprofundar mais.


Espero contar com o apoio de todos, principalmente com sugestões de temas, dicas, críticas e textos de convidados, o espaço dos comentários é aberto a todos! Começo esse projeto porque creio no potencial da ficção científica desde muito jovem e nos mais de 20 anos como leitor e adepto do gênero em todas as suas mais variadas manifestações nunca deixei de acreditar nos novos horizontes que o gênero propõe.





Com a ficção científica vamos onde ninguém jamais esteve!


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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

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