13 de julho de 2016

Bonito de se ver, Bonito de se ler...

Os livros doados ao público, bastava ir na árvore e pegar o seu
Bonito seria mais uma linda cidade turística como outras tantas Brasil afora no último fim de semana, não fosse um evento especial na cidade: a Feira Literária de Bonito, FLIB ou mesmo FLIBonito como alguns gostaram de chamar. Eu já conhecia Bonito de outras primaveras mas nunca havia comparecido a um evento na cidade: ora faltavam oportunidades, ora sobravam desculpas. Mesmo a primeira edição da FLIB em 2015 eu acabei perdendo graças a um plantão de última hora. Acompanhei a Evelise Couto da Contexto Mídia, autora do Blog Casa de Um na cobertura do evento. Aceitei o convite do organizador Carlos Porto, que muito atenciosamente possibilitou minha participação. Na organização do evento, conheci a Maria Adélia Menegazzo, curadora do evento e alguém que desde sempre me lembram que eu já deveria ter tido um dedo de prosa. Aqui expresso minha gratidão ao Carlos por ter concretizado essa prosa com a Maria Adélia, uma guia pro futuro do Sentinela no mundo das palavras.

As apresentações teatrais cativaram o público das escolas
A segunda edição da FLIB manteve o protocolo e, assim como homenageou em 2015 o poeta local Manoel de Barros, em 2016 foi a vez do poeta Lobivar Matos, um desconhecido pra muitos mesmo aqui no Mato Grosso do Sul mas que vem tendo uma releitura/redescoberta de sua obra graças ao trabalho de pesquisadores das universidades locais. A poesia de Lobivar fala da regionalidade, de seu amor pela cidade de Corumbá e traz carregados traços de sua infância pantaneira. Lobivar morreu jovem, aos 32 anos e sem o devido reconhecimento pela sua obra, os livros de poemas Areôtorare: poemas borórosSarobá que em 2016 completa 80 anos de publicação.
O Sentinela divide a palestra com o Prof. Edson Silva

No evento tive a oportunidade de reencontrar meu professor dos tempos da faculdade de Jornalismo, o Prof. Edson Silva, a quem tive o privilégio de acompanhar em uma apresentação onde discorremos sobre a pesquisa jornalística, construção de narrativas e os blogs literários como ferramenta. Meu trabalho com o prof. Edson nos tempos de Jornalismo remete às pesquisas feitas sobre a história da cidade de Campo Grande e sua arquitetura, seu patrimônio material e imaterial como a Ferrovia e as construções do centro histórico da cidade. Algo que se destacou durante o evento foi a relação com as escolas e as crianças, o trabalho com os jovens leitores. Professores de escolas locais e da região levavam seus alunos pra participar de apresentações teatrais e culturais em espaços rotativos com várias atividades pra criançada desenvolver o gosto pela leitura, uma iniciativa pra lá de louvável.

O Sentinela, pego no flagra admirando o livro infantil
Zebrosinha, de Bruna Beber
Daniel Munduruku e suas histórias no Espaço Sarobá
No palco conheci o trabalho do Beirão, um músico nordestino radicado em Brasília que trabalha a literatura de cordel em suas canções e encantou a primeira noite do evento. No Espaço Sarobá contemplei a poesia da Bruna Beber no Dedo de Prosa com os autores. No mesmo espaço se apresentaram o amigo e esctitor Ewerton Carvalho com o seu O Primeiro Vampiro, o também amigo e contista Henrique Pimenta com o seu Ele adora a desgraça azul e seus contos. Lá conheci Luciano Serafim e suas histórias, sua paixão por Manara, Crepax e outros tantos. Luciano trouxe com sua Editora Arreboluma forma diferente e sustentável de publicação, valorizando acima de tudo o talento do autor. Nas palestras também conheci o autor Daniel Munduruku, autor indígena que na programação aparecia como autor de livros infantis mas na apresentação surpreendeu a todos com suas palavras sinceras sobre a questão indígena no Brasil. Daniel também discorreu sobre a fonte de suas narrativas, a oralidade dos velhos dos povos onde ele circula. É dessa oralidade que saiu o livro A caveira-rolante, a mulher-lesma e outras histórias indígenas de assustar, da Global Editora, livro que me interessou por trazer o terror nos contos que os velhos contam.

A criançada lendo: um dos pontos fortes da FLIB
Outra autora que me surpreendeu e eu desconhecia era Ana Paula Maia que criou um personagens chamados Edgar Wilson e Bronco Gil, situou suas histórias em ambientes inusitados como um matadouro e falou de um mundo onde a delicadeza feminina não entra e os personagens não necessariamente têm de evoluir do ponto A ou B. Estou terminando De Gados e Homens entre ontem e hoje, enquanto escrevo esse post, de tão inesperada que foi a descoberta/leitura. Fiquei com impressão parecida da que tive ao assistir Amarelo Manga de Cláudio Assis, principalmente pelas sequências no açougue e no matadouro.

Julio Maria e seu Nada Será Como Antes
Na FLIB também conheci Julio Maria, autor da biografia mais recente sobre Elis Regina que comoveu a todos com a desconstrução da eterna Pimentinha em sua apresentação. Foi comovente ouvir do autor o relato dos filhos de Elis na leitura das passagens do livro. Resta agora a vontade de devorar cada página de Nada Será Como Antes e desconstruir com Julio o mito que foi, e ainda é, Elis Regina. Em um mercado onde biografias são proibidas pela auto-censura de personagens que querem uma imagem intocada, ainda que incoerente pra posteridade, Julio parece ter encontrado o equilíbrio perfeito entre a desconstrução do mito e o relato sincero, tudo que esperamos de uma boa biografia.

Pedro Gabriel e seus livros, um exemplo de inspiração
Outra apresentação que me cativou foi a do Pedro Gabriel e seus livros, Eu me chamo Antônio e Segundo - Eu me chamo Antônio. Em sua conversa com o público ele mostrou que às vezes, algo simples como se expressar em um guardanapo pode nos levar a algo maior, a sair da rotina diária à qual nos deixamos prender. Pedro tem um talento excepcional, ele cria e traça sua obra, desenha e escreve, compondo tudo de um jeito simples e direto. Se ainda não caiu no gosto dos acadêmicos é porque esses ainda falham em admirar algo que veio da selva cibernética e que eles ainda têm medo de explorar. Espero que sua obra continue inspirada e criativa como sua presença foi aos seus fãs.

De resto, posso dizer que a peça intimista de Paulo Betti e o show de Tetê Espíndola vieram pra coroar um evento muito especial, uma feira que começava todos os dias com o chamado sempre especial do artista Ruberval Cunha que encantava a todos com um bom dia sempre especial através de seus versos declamados em improvisos sempre encantadores. A FLIB de 2016 foi inesquecível e eu mal vejo a hora pra participar da próxima, dessa vez com meus contos! Aqui vai meu muito obrigado a todos os envolvidos e a recomendação aos leitores que participem nas próximas!

P.S.: As fotos do post são de autoria da fotógrafa Elis Regina, algo no mínimo surreal quando se tem no evento o biógrafo da Elis Regina! Um inception inesperado por todos!

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O Sentinela Positrônica é um Blog Parceiro da Editora Aleph.

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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.