11 de novembro de 2015

Como nascem as lendas

Richard Matheson é um autor e tanto. Matheson roteirizou alguns dos melhores episódios de Além da Imaginação (Twilight Zone, 1959): clássicos como Nightmare at 20000 feet, Third from the Sun e Button, Button que, aliás, virou filme lançado no Brasil como A Caixa. Ele também escreveu o livro e o roteiro dos filmes O Incrível Homem que Encolheu e Em algum lugar do Passado entre outros tantos trabalhos adaptados pro Cinema e TV mas o mais notável entre seus escritos é o clássico Eu sou a Lenda. O livro já foi adaptado 4 vezes pro Cinema sendo a última com Will Smith como o protagonista Robert Neville, papel que já foi de grandes atores como Vincent Price e Charlton Heston.

A edição da Editora Aleph
Eu sou a Lenda é um livro que não se limita ao Terror tradicional ou à Ficção Científica clássica. O livro traz o melhor de ambos os gêneros ao descrever o mundo pós-apocalíptico em que vive Robert Neville, o último sobrevivente de uma civilização que sucumbiu a uma praga que transformava pessoas normais em vampiros e trazia os mortos de volta, igualmente sedentos por sangue. Os vampiros da trama se comportam como o vampiro tradicionalmente conhecido: aversão ao sol, alho, temem a cruz, fogem de espelhos e não atravessam água corrente. A narrativa começa 6 meses após Neville ter encontrado a última pessoa saudável e segue descrevendo a agonia e o isolamento dele em uma rotina que alterna momentos de bebedeira e depressão. Sobreviver num mundo devastado pela praga faz com que ele se fortifique em sua casa já que os vampiros vem incomodar as noites de Neville enquanto de dia ele sai em busca de recursos enquanto caça as criaturas em seu sono.

Vincent Price, Charlton Heston e Will Smith como
Robert Neville
O fato dele estar vivo e ter visto sua esposa e sua filha sucumbirem à praga faz com que ele entre num ciclo de recriminação e culpa que só são aplacados quando Neville decide tomar uma atitude e começa a pesquisar sobre a condição vampírica. Robert Neville começa a pensar a condição da praga até os mínimos detalhes, desde a aversão por alho ao medo da cruz e de espelhos ou mesmo o porquê da eficiência das estacas na hora de eliminar os infectados. Robert se nega em vários momentos a acreditar na possibilidade sobrenatural dos vampiros criados pela infecção e começa a esmiuçar as possibilidades estudando cada vez mais, ainda que de forma amadora já que ele mesmo não é um cientista.


A trama se desenvolve em 4 momentos distintos, entre 1976 e 1979 e mostra as diferentes fases da vida de Neville durante o período. A depressão inicial, a adaptação e aceitação da solidão e o seu destino nesse novo mundo. Em todo momento o leitor acompanha o protagonista em suas frustrações e aspirações e, o mais interessante, é que em nenhum momento o autor poupa o leitor. Seja quando Neville começa a criar expectativas com o estudo da condição vampírica ou mesmo quando ele ganha a companhia do cachorro pra logo em seguida ter todas as suas esperanças reduzidas a nada. Stephen King define bem essa sensação logo na introdução da nova edição brasileira lançada pela Editora Aleph quando diz que o autor não poupa o leitor em momento algum. Quando você pensa que Neville conseguiu uma vitória ou mesmo já passou pelo pior, Matheson vem e tira leitor e narrador da zona de conforto criando uma reviravolta inesperada. É assim até a última página do livro, uma narrativa tensa, que prende o leitor mantendo-o constantemente alerta. Aliás, vale notar que existe um motivo pro livro ter esse nome e, mesmo esse motivo, faz parte de mais um choque que o autor preparou pro leitor em Eu sou a Lenda.

A edição da Editora Aleph traz o mesmo capricho de outras edições, com o devido respeito à obra original que já foi lançada no Brasil como A última esperança sobre a Terra pela Francisco Alves ou teve capas relacionadas ao filme de Will Smith que pouco tem a ver com a trama original do livro. O acabamento em capa dura e as artes embelezam ainda mais a edição que ainda conta com dois extras: uma análise acadêmica da obra por Mathias Clasen e uma entrevista com o próprio Richard Matheson em 2007 onde ele fala sobre o livro e suas adaptações pro cinema.

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O Sentinela Positrônica é um Blog Parceiro da Editora Aleph.
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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.