14 de abril de 2016

Planeta Indomável

*Resenha feita durante a Mostra Sci-Fi no MIS realizada entre 11 e 15 de abril no Museu da Imagem e do Som de Campo Grande, MS.

Capa do filme em home video
Planeta Selvagem é uma animação do diretor René Laloux produzida entre França e Tchecoslováquia em 1973. O filme ganhou o Prêmio Especial do júri em Cannes em 73 e é baseado no livro "Oms en série" do autor francês Stefan Wul. Planeta Selvagem estreou nos EUA como Fantastic Planet e foi levado ao país por ninguém menos que Roger Corman. A animação conta a história do planeta Ygam e os Draags, seres azuis gigantes de uma civilização altamente avançada que um dia visitaram a Terra e levaram humanos ao seu planeta. Esses homens passaram a ser chamados Oms e foram adotados como animais pelos Draags que se dedicaram a domesticar alguns Oms enquanto o resto foi abandonado na natureza selvagem do planeta Ygam.

O Planeta Selvagem do título é na verdade a Lua de Ygam, algo que o espectador fica sabendo ao longo da projeção. A relação entre Oms e Draags define a narrativa da animação que começa apresentando uma Om selvagem com seu filho enquanto 3 crianças Draags brincam com a humana em fuga. A mãe acaba morta com a brincadeira inocente, porém cruel, das crianças Draags e cabe ao Draag chamado Mestre Singh, um dos líderes políticos do planeta, e sua filha Tiva resgatarem o pobre bebê Om sobrevivente. Tiva adota o "animal" e o nomeia Terr, assim floresce a relação dono/mascote entre a jovem Draag e o bebê Om. A história se desenvolve com Terr aprendendo a usar o método de aprendizagem artificial dos Draags por acidente e, com isso, desenvolvendo sua inteligência até o dia em que decide fugir e acaba encontrando os outros Oms, esses não-domesticados e com uma cultura tribal já desenvolvida. Nesse meio tempo, o alto conselho Draag discute formas de reduzir e controlar a população de Oms em Ygam.

A Draak Tiva e o pequeno Om Terr

O filme trata da relação de poder entre opressor e oprimido, mostrando o ser humano no papel do animal domesticado ou selvagem, subvertendo os papeis e colocando os Draags como nossos senhores. Naturalmente a relação não funciona e esse é o mote do filme. A animação é precursora ao estilo futurista fantástico proposto pela Metal Hurlant no final da década de 70, a mesma Heavy Metal nos EUA que em 81 ganhou um longa-metragem de animação que poderia muito bem incluir Planeta Selvagem entre seus segmentos. Os cenários fantásticos lembram muito os desenhos de Druillet e Moebius, especialmente a fase da Garagem Hermética e Azrach de Moebius. A animação me lembra o estilo de Terry Gilliam em sua fase psicodélica no grupo Monty Python, um grande indicativo da qualidade do filme. Infelizmente o filme é muito difícil de encontrar no Brasil, até mesmo pra importação. Uma edição especial em Blu-Ray da Criterion é prevista pra junho desse ano, com isso, nos resta torcer pra que uma distribuidora decida trazer essa pérola da animação ao Brasil. A Versátil já se mostrou uma excelente candidata, vamos torcer pra que isso aconteça!

O mundo selvagem (e surreal) de Ygam assola Terr e sua companheira Om


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O Sentinela Positrônica é um Blog Parceiro da Editora Aleph.
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Daniel Rockenbach, um estranho numa terra estranha que decidiu compartilhar suas leituras sobre ficção científica em suas mais diversas manifestações.

Seu instagram é @danielrockenbach.